Crédito: Fernando Vivas
Esse ensaio – que faz parte de uma reportagem da revista MUITO deste domingo, 31 – começou no meio da tarde de uma quarta-feira, na enseada do Rio Vermelho, berço dos pescadores da colônia Z-1. Continuou por mais uma semana em Itapuã e na Ribeira. Nasceu colorido, mas foi se tornando preto e branco quando percebi o contorno sinuoso que a chegada das ondas fazia na praia do Rio Vermelho. Dali da mureta, em frente à casa de Iemanjá, abstrair das cores parecia ser uma boa forma de realçar aquele bordado que as ondas desenhavam na areia. A escolha também foi um jeito de viver a nostalgia de uma fotografia que se fazia lenta, como parece o tempo ainda compartilhado pelos pescadores. Quando colocar o filme na câmera era como costurar uma rede de pesca, preparar-se para lançar-se no mundo - de terra e de mar - e voltar com histórias para contar. Por isso, em homenagem ao "deus do acaso" que habitava o interior das câmeras de antes, resolvi capturar as imagens diretamente em preto e branco - elas não seriam feitas em cor e depois manipuladas para se tornarem monocromáticas. Sairiam assim, com a chance do erro. O visor do fundo da máquina foi esquecido, as imagens só seriam vistas depois, assim como se esperava pela revelação do filme, quando não dá mais tempo de mudar e o instante transcorre, irreversível. Para acompanhar mais detalhes sobre as histórias dos pescadores de Salvador, adquira seu jornal A TARDE deste domingo, que vem com a MUITO encartada. E boa leitura!